Investindo em ações com estratégia e disciplina
A seguir artigo do Carlos A H Brum, gentilmente enviado ao blog.
Ao longo dos anos, com o objetivo de atender aos desejos dos mais diversos perfis de investidores, foram desenvolvidas inúmeras estratégias de alocação de recursos. No mercado de ações, em particular, as alternativas são tão amplas que muitos ainda ficam meio perdidos na hora de escolher a que melhor se adequariam aos seus objetivos, dúvidas, anseios, necessidades e limitações.
O mundo ideal seria adotar uma estratégia na qual os ganhos fossem certos, significativos e pudessem ser embolsados no curtíssimo prazo. Entretanto, infelizmente, a realidade é diferente. No mercado de ações, sonhos, fantasias, divagações costumam ser penalizados com expressivos prejuízos.
Assim, aqueles que escolhem o mercado de ações para investir têm diante de si uma lista grande de tarefas a executar. Para que uma estratégia de sucesso seja construída, muitos elementos devem ser observados e utilizados, tais como: disciplina, informações, técnicas, ferramentas e métodos, que são os mais diversos e para todos os gostos.
A primeira coisa que um investidor precisa entender é que não existe uma fórmula única que garanta o sucesso. Estratégias que são vitoriosas para uns podem não se adequar para outros investidores.
Entre o momento em que é tomada a decisão de investir em ações e a hora de embolsar o lucro, muita coisa acontece e, cada etapa do processo merece estudo e muita atenção.
Determinação do perfil do investidor
É muito importante a determinação do perfil do investidor na hora de planejar uma estratégia de investimento.
O perfil do investidor geralmente é definido pelos parâmetros: idade, objetivo de retorno, prazo para a utilização dos recursos investidos, e o grau de aversão ao risco.
O investidor com perfil conservador não gosta de se expor ao risco e seu horizonte de investimento é de curto prazo. O de perfil moderado já se dispõe a correr um pouco mais de risco que o conservador e o investidor com perfil agressivo gosta de aplicar seus recursos a longo prazo e correr maiores riscos em troca de uma rentabilidade superior.
Definição dos objetivos
Por se tratar de um investimento de renda variável, a rentabilidade do mercado de ações flutua bastante e está sujeito a riscos. Desta maneira, assim como pode apresentar valorizações expressivas, também pode proporcionar perdas substanciais. Portanto, a definição por parte do investidor dos objetivos de prazo e retorno para que isso ocorra são fundamentais, além da adoção de uma posição de cautela, investindo de acordo com o seu perfil.
A comparação entre retornos esperados para a aplicação em ações e para os demais investimentos que o investidor possa vir a ter, se faz necessária. Neste caso, o investidor deve analisar qual é a perspectiva de rendimentos em outros investimentos, como na renda fixa, por exemplo, e determinar o quanto deve ser o rendimento de uma aplicação de renda variável que justifique correr o risco deste tipo de investimento.
É bom lembrar que retorno e risco andam sempre de mãos dadas, de forma que não se tem um sem o outro.
Análise das informações
O investidor em ações deve estar sempre bem informado, de vez que o fluxo de informações e o impacto destas sobre as ações pode fazer a diferença entre ganhar e perder dinheiro.
Entretanto, quem investe em ações sabe que dificilmente existe consenso entre investidores ou mesmo entre analistas de quais são as melhores opções de investimento em ações. Portanto, cabe ao bom investidor não seguir cegamente as recomendações de quem quer que seja, mas sim saber ponderar as diversas opiniões e análises e chegar a uma conclusão própria. Neste mercado, tomar decisões conscientes e bem fundamentadas é o principal diferencial para determinar o sucesso do investimento.
Escolha dos ativos
A maior preocupação de quem planeja um investimento deve ser a correta escolha dos ativos a serem adquiridos. Se for bem feita, a escolha ajuda muito, principalmente a quem está se iniciando.
O tempo necessário e o cuidado despendido na hora de escolher os ativos devem ser maiores do que em qualquer outra parte do planejamento da operação.
O ideal é escolher aquelas ações que melhor se enquadrem ao seu perfil de investidor (mais ou menos voláteis).
Para escolher os ativos que irão compor o portfolio é muito importante que o investidor analise os fundamentos, a liquidez das ações e o potencial de pagamento de dividendos da companhia.
Os fundamentos
Os fundamentos se referem às informações relativas à companhia, tais como, dados financeiros, administração, produtos, mercado, matérias primas, fornecedores, concorrência, etc. que permitem ao analista projetar o desempenho futuro e o estabelecimento de um preço justo para as ações da mesma.
A liquidez
A liquidez das ações é a maior ou a menor facilidade que o investidor terá para vender ou comprar as ações.
Potencial de pagamento de dividendos
Empresas com bom potencial de pagamento de dividendos podem fazer a diferença na hora de montar uma carteira equilibrada.
Entretanto, a escolha de ações somente pela variável de retorno em dividendos não é adequada. O ideal é aliar os fundamentos, as projeções de alta dos preços e o valor de retorno através de dividendos.
As ações de empresas com maior potencial de pagamento de dividendos são, em geral, as que menos oscilam em relação ao Ibovespa e por isso são consideradas defensivas.
O investidor mais conservador tende a ser o de perfil mais voltado para a escolha destes papéis. No jargão do mercado financeiro as ações de empresas que pagam bons dividendos são chamadas de cash cow, expressão em inglês que significa “vaca leiteira”.
Market timing
Muitos acreditam que a forma mais eficiente de ganhar dinheiro na Bolsa é através da movimentação freqüente das ações, isto é, comprando e vendendo constantemente, para aproveitar as altas e baixas deste mercado.
Entretanto, isso não corresponde à verdade. Diversos estudos acadêmicos demonstram que apenas 10% dos ganhos obtidos com uma carteira de ações são decorrentes do market timing, ou seja, identificar o momento certo para comprar ou vender. Os demais 90% se referem à alocação de ativos, que corresponde à correta escolha de ações que, ao longo do tempo, mostram potencial de valorização.
Prazo: variável importante
Em primeiro lugar é preciso definir o prazo do investimento: curto, médio ou longo prazo. Para a definição deste prazo o investidor deve levar em consideração sua disponibilidade de acompanhar o mercado, o tempo em que pode manter os recursos investidos e seus objetivos.
Investimentos de curto prazo são mais arriscados e requerem mais tempo e atenção do investidor, pois exigem, na maioria das vezes, decisões rápidas. Outro aspecto a ser considerado em estratégias de movimentação constante da carteira é o maior custo das transações, de vez que cada operação gera uma despesa de corretagem.
No médio e longo prazo existe um período maior para a tomada de decisões e a exposição aos riscos fica reduzida.
Diversos estudos acadêmicos comprovam que a grande maioria dos ganhos no mercado de ações está distribuída no médio e longo prazo. Saber identificar as melhores alternativas de investimento, com ações de companhias que apresentam bom potencial de crescimento e posição destacada de mercado é o que realmente faz a diferença.
Movimentação da carteira
Outra variável importante é a que se refere ao montante a ser investido e a movimentação da carteira. Mesmo que o investimento seja de longo prazo, não é necessário que o mesmo fique parado durante todo o prazo estipulado. O investidor deve aproveitar as oportunidades que surgirem ao longo do tempo e movimentar parte de sua carteira, comprando e vendendo ações. Por exemplo, em muitas ocasiões vale a pena explorar o diferencial entre ações ordinárias e preferenciais da companhia da qual é acionista.
Esta estratégia pode elevar o risco da carteira, mas certamente irá agregar mais valor a ela.
Acompanhamento constante
O investimento em Bolsa exige seletividade na escolha das ações a serem adquiridas. A escolha deve levar em conta os fundamentos das companhias, considerar as perspectivas econômicas de cada setor e as expectativas de desenvolvimento e crescimento do país e das companhias. Por isso, ao aplicar em ações, o investidor precisa acompanhar o mercado constantemente.
Controle emocional
Quem atua no mercado tem por objetivo a obtenção de lucro. Entretanto, o investidor deve ter sempre presente que as perdas são usuais e factíveis. Assim, é indispensável que o mesmo procure evitar o pânico e a euforia na hora de investir.
É importante que o investidor mantenha a calma quando o mercado cai, mesmo quando a queda for expressiva. Se o investimento foi feito de forma consciente, bem fundamentado, não tem porque entrar em pânico. Os fatores que justificaram seu investimento em um primeiro momento ainda continuam válidos. Portanto, a melhor estratégia diante de movimentos bruscos de mercado é manter a calma, evitando vender os papéis com prejuízo. É bom lembrar que no mercado acionário o investidor só sofre uma perda quando efetivamente vende suas ações.
Da mesma forma que o pânico também a euforia deve ser controlada. Uma euforia desenfreada pode levar o investidor a adquirir ativos em momentos inoportunos, quando a Bolsa já acumula fortes altas, o que aumentará o risco do investimento.
Entender o humor do mercado
Uma estratégia importante que deve ser observada pelo investidor é a de entender o humor do mercado e adaptar-se a tendência demonstrada pelo mesmo. A forma de agir deve ser diferente conforme a tendência apresentada pelo mercado, Se a tendência for de alta a forma de agir é de uma maneira, se for de baixa é de outra, e se for “de lado” é de uma terceira maneira.
Tendência de alta(Bullish)
O primeiro modo é o modo operacional de compra, que deve ser acionado quando o mercado estiver em uma tendência de alta. Para os adeptos da análise técnica, com topos e fundos ascendentes no gráfico semanal. Neste modo, a estratégia é abrir apenas posições compradas, com pontos de compra em todos os suportes identificados e nos rompimentos dos topos anteriores. O investidor não deve abrir posições vendidas.
Tendência de baixa(Bearish)
Este é o modo operacional de venda, ou seja, quando o mercado apresenta topos e fundos descendentes. Quando a tendência é de baixa, ficar procurandoum ativo na contramão não é a estratégia mais indicada, ou seja, é melhor abrir apenas posições vendidas, com pontos de venda nas resistências.Neste modo, mais do que em qualquer outra operação, a utilização de stops é indispensável.
Mercado “de lado”
O último modo operacional é o modo “de lado”, ou seja, quando o gráfico semanal mostra topos e fundo no mesmo nível.
Neste caso, o ideal é abrir posições compradas no suporte, desde que a diferença entre o preço no suporte e a resistência esperada seja maior do que 20%, ou posição vendida nas resistências, desde a diferença entre esta e o piso esperado seja, da mesma forma, maior que 20%.
Quando o mercado está de lado, não se devem comprar rompimentos.
Carlos A H Brum é economista, analista de investimento, ex-presidente da APIMEC-SUL e autor dos livros, "Investindo em Ações com Estratégia e Disciplina", "Aprenda a Investir em Ações e a Operar na Bolsa via Internet" e "O Último Pregão".